Explicação prévia

Tanto as pessoas como as instituições necessitam de ter memória, para saberem quem são e (re) conhecerem a sua identidade. Só assim, apreciando o passado, é possível oferecer ao presente a dádiva da projecção do amanha.

                Na passagem das Bodas de Diamante da fundação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte da Barca, impunha-se, por isso, uma incursão pela história desta veneranda colectividade, umas das mais antigas do Concelho de Ponte da Barca.

                Recorrendo á pouca documentação disponível, tratámos de recuar aos tempos primordiais da fundação e visitámos o entusiasmo com que um grupo de 25 ilustres cidadãos pôs em marcha um projecto cujo percurso tem sido escrito com letras doutoradas da abnegação, do altruísmo, da solidariedade, do meu serviço voluntário.

              Investigamos, na medida do possível, os nomes e os rostos dos protagonistas desta gesta, os chamados bombeiros sem farda que formaram os Corpos Gerentes, ao longo dos sucessivos mandatos. E o mesmo se diga do trabalho bravo e intrépido dos Soldados da Paz. Comandantes e homens e também mulheres que construíram e constituem o Actual Corpo Activo.

Acompanhamos, com fascínio, aventuras e desventuras de bombeiros, registámos momentos de glória e episódios de tensão entre eles, sentimos a determinação de tantos homens e de toda uma Comunidade na mobilização de boas vontades que permitiram adquirir os materiais e os equipamentos necessários ao cabal desempenho do Corpo Activo, desde a bomba braçal e do Chevrolet, nos longínquos anos dos primórdios, até á mais recente, moderna e sofisticada viatura do séc. XXI

                E tivemos, ainda o privilegio de viver a demanda, sempre inacabada, de encontrar uma casa onde instalar a Associação percorrendo vários espaços até á inauguração do Quartel em 1983.

                Encerramos esta viagem ao ritmo de um outro projecto, a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Ponte da Barca que, aquém e além fronteiras tem erguido bem alto i nome e o prestígio desta terra e da sua gente.

                A terminar, publicamos um conjunto de oito depoimentos sobre figuras gradas da história da Associação – não tantos como desejaríamos -, assinado por familiares e cidadãos que por eles nutrem especial admiração.

                Este é um simples e despretensioso contributo cívico para a história desta benemérita e prestimosa Associação, seguramente incompleto, mas feito com toda a estima por tantos homens e mulheres que souberam e sabem interpretar como poucos o ideal do Voluntariado e do serviço desinteressado e gratuito á Comunidade, arriscando “ Vida por Vida”, . . . “ A bem da Humanidade”.

                Com este trabalho eminentemente factual, pretendemos homenagear essas centenas de cidadãos valorosos que, ao longo dos últimos 75 anos, ofereceram e continuam a dedicar uma boa parte das suas vidas – porventura a melhor – à construção de um sonho profundamente humanista, seja como os membros dos Órgãos Sociais, seja como elementos do Corpo Activo.

                Todos eles mereceram a nossa gratidão e estima, porque – nunca é demais recorda-lo – estão  sempre prontos para sacrificar os seus tempos de lazer e o convívio com a família e com os amigos, perdendo noites de repouso, para se dedicarem totalmente sem desfalecimento, ao “ Auxilium in periculo”.

                Longe vai o tempo de D. João I, cuja Carta Régia de 1395 institui a obrigação de os pregoeiros da cidade de Lisboa saírem de noite pelas ruas, avisando em voz alta os moradores para terem cuidado com o lume das suas casas. Nascera, assim,  o embrião do que, no tempo de João I, viria a ser o primeiro serviço de Bombeiros, com recrutamento de pessoal entre todos os carpinteiros e pedreiros da cidade, que tinham como obrigação acudir a todos os incêndios, sob o risco de incorrerem uma pena de prisão de dois meses por cada incêndio a que qualquer elemento faltasse.

                Felizmente, a pena de prisão foi abandonada, porque o abnegado espírito de Voluntariado dos Bombeiros acabou por demonstrar que era desnecessária.

                Oxalá esta obra seja recebida como um exercício livre de cidadania que mais não pretende do que prestar uma justíssima Homenagem à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte da Barca e a todos os homens e mulheres que ao longo destes 75 anos de vida, deram o corpo a este projecto e ofereceram alma a este sonho.

                E oxalá contribua, também, para que todos passemos a estimar mais o ideal do Voluntariado e a valorizar, devidamente, o trabalho desta Instituição “ A Bem da Humanidade”…

                                                                                                                                             Luís Arezes

                                                                                                                             luisarezes@sapo.pt

“retirado do livro 75 Anos a servir a comunidade”